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segunda-feira, 14 de outubro de 2013

João e Paulo - Resposta ao texto de Diego Quintero

 João nasceu. Em uma maternidade pública, dos ventres de sua mãe para as mãos do esforçado médico. Foi dia de festa em sua casa. Criança bonita e cheia de saúde, o xodó dos titios, da mamãe e do papai.

 Paulo nasceu. Em uma maternidade particular, uma das mais caras da cidade. Festa também em sua casa. Xodó dos pais, dos tios e dos avós.

 Pai de João, que era pedreiro e não tinha sequer o fundamental completo, não tinha muito dinheiro e ensinou durante toda sua vida ao filho o valor do trabalho, tendo seu discurso sempre ilustrado por suas mãos surradas e cheias de calos. Um senhor doce e humilde. João tinha um baita orgulho do pai.

 Pai de Paulo, um médico famoso, que dava até entrevistas para a TV, tinha muito dinheiro e sempre deu de tudo para seu filho mas, não obstante, nunca fora um pai presente por conta de seus plantões e de suas responsabilidades como médico. Um senhor ausente e frio. A vida era injusta. Por que os outros meninos tinham um pai os levando à escola e ele não?

 João, que sempre ouviu os conselhos do pai e o acompanhou em tudo na vida, estudava em colégio público e era doido para ajudar o pai no trabalho de pedreiro que ele tanto admirava. O pai, por outro lado, sempre dizia para o filho que não queria aquilo para ele e que se se esforçasse e estudasse o bastante, não teria que carregar pedras ou misturar cimento. Ninguém melhor que seu pai! A vida era justa, pois seu pai sempre o ensinou que as pessoas recebem por seu mérito.

 Paulo, então, frequentando a melhor escola da cidade, faltava muito às aulas. Não tinha apoio do pai e sua mãe não podia com ele. Era revoltado e os professores reclamavam de sua malcriação.

João, já adolescente, por volta de seus 17 ou 18 anos, passava o resto do dia que lhe sobrava - pois trabalhava após a escola para ajudar seus pais - estudando para o vestibular; sabia que sua família não conseguiria pagar por uma universidade particular e comer ao mesmo tempo. Ele queria uma pública.

Paulo, já adolescente, por volta de seus 17 ou 18 anos, e com uma forte ausência da imagem paterna, nunca gostou muito de estudar e, quando conheceu as pessoas erradas, entrou no mundo errado. A vida era boa. Seu hobby era, junto de seus amiguinhos, fazer protesto na avenida paulista e quebrar os bancos privados. Todos vestidos sempre de preto. Paulo estava revoltado.

João, que estudou bastante e era um rapaz inteligente e curioso, passou no tão sonhado vestibular e iria frequentar uma universidade! Era tanto orgulho que não cabia no peito dos pais! Paulo, que apesar de faltar muito às aulas e gostar de fazer protesto, passou na mesma universidade. Afinal, estudou no melhor colégio da cidade.

Eles não se conheciam e tinham visões bem diferentes sobre o mundo; viveram situações também distintas em realidades totalmente antagônicas. Até que um dia, como essas coisas que só Deus consegue explicar, eles se encontraram.

Paulo, de família rica, se dizia defensor dos pobres e explorados e acusava João de ser um burguês imperialista. João, então, riu da cara de Paulo e deu-lhe as costas.

Fim.

Moral da história:

Assim é a humanidade. Enquanto uns se superam e outros regridem, sempre irão existir aqueles que, por burrice ou perversão, procuram desumanizar os homens, diluindo a culpa como se fossemos animais não responsáveis por nossos atos. Esses, portanto, sempre em cima do muro, colaboram para a existência de uma sociedade sem culpados pela maldade, que impedem a bondade de ser feita.

Aqui o texto original, de Diego Quintero, o primo, também esquerdalha, do PC Siqueira.

                                                                                                             
                                                                                                                - Ian Maldonado.

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